As farmácias hospitalares são responsáveis por administrar todos os EPIs de funcionários e pacientes, bem como os medicamentos e materiais necessários ao tratamento. Com a pandemia do novo coronavírus, esses profissionais estão enfrentando desafios pelos quais nunca passaram antes.
Por isso, entrevistamos o Dr. Luis Fernando Rodrigues de Mendonça, Diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (SBRAFH) para mostrar quais são as maiores adversidades que esse cenário traz e como passar por ele da melhor maneira possível. Confira!
ANB Farma: quais são as principais responsabilidades da farmácia hospitalar?
Dr. Luis Fernando: as responsabilidades da divisão de Assistência Farmacêutica permeiam desde aspectos regulatórios quanto a controle sanitário e legal do estabelecimento de saúde, controle de qualidade e validação de produtos e processos, passando pela gestão de demandas, de estoques, dispensação de medicamentos e insumos farmacêuticos, participação em comissões multidisciplinares, chegando até o acompanhamento clínico do paciente, avaliando e padronizando, junto à equipe multiprofissional, terapias efetivas e seguras, embasadas por protocolos clínicos, fundamentados por evidências científicas, a fim de primar pela segurança e qualidade de vida dos pacientes.
AF: qual é a função de um farmacêutico no hospital?
DR. LF: podemos citar alguns segmentos de atuação: Gestão Regulatória; Gestão de Suprimentos e Custos Hospitalares; Gestão de Recursos Humanos; Gestão de Recursos Materiais e Infraestrutura; Informatização e Automação da Farmácia Hospitalar; Gestão da Qualidade e Indicadores na Farmácia Hospitalar; Gestão na Seleção de Medicamentos; Gestão na Aquisição de Medicamentos e Produtos para a saúde; Gestão de Estoques; Gestão de Demandas; Controle de Qualidade; Gestão da Farmacotécnica Hospitalar; Gestão em Auditoria Hospitalar; Gestão de Gases Medicinais; Gestão de Saneantes hospitalares; Gestão de OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais); Gestão Ambiental de Resíduos nos Serviços de Saúde; Gestão Farmacoeconômica; Gestão da Farmácia Clínica Aplicada; Pesquisa Clínica; Educação em saúde; Prevenção e Controle de Infecção entre outras.
AF: quais são os principais desafios enfrentados pela farmácia hospitalar no que se refere à pandemia da covid-19?
DR. LF: a pandemia criou muitas dificuldades e nos forçou a reexaminar/adequar processos essenciais à assistência no sistema de saúde hospitalar. Acreditamos que dentre inúmeros desafios enfrentados, alguns merecem ser destacados como:
Readequação de fluxos e rotinas dos serviços, incluindo a dispensação de medicamentos e insumos hospitalares a fim de garantir que os produtos dispensados chegassem aos pacientes, sem qualquer risco de contaminação e os produtos não utilizados pudessem retornar aos estoques, obedecendo aos critérios de segurança, como desinfecção, por exemplo, prezando pela proteção dos profissionais de saúde que ali desenvolviam suas atribuições.
Muitos hospitais optaram por adequação de infraestrutura física, criando/adaptando farmácias satélites em ambientes isolados para atendimento específico de áreas que recebiam casos suspeitos ou confirmados de covid-19, evitando o contrafluxo de medicamentos e de produtos para saúde e, assim, contaminação de outras áreas. O trabalho de biossegurança tem sido criterioso e intenso, junto aos farmacêuticos e demais colaboradores que compõem o serviço de Farmácia Hospitalar, especialmente quando há o envolvimento direto com tais fluxos, sendo obrigatória a adoção de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e a utilização de soluções antissépticas para higienização das mãos.
O serviço clínico do farmacêutico na avaliação e monitoramento de farmacoterapias, para tratamento de uma doença até então totalmente nova, é sem dúvida um dos maiores desafios em um cenário em que os estudos sobre eficácia clínica e se os benefícios superam ou não os riscos ainda permanecem inconclusivos. Inserido nesse contexto, o monitoramento de medicamentos está sendo extremamente necessário, uma vez que é possível a ocorrência de reações adversas, de necessidade de ajustes de doses, de alterações bioquímicas laboratoriais que exigem um olhar mais atento, entre outras necessidades, sempre com foco na segurança do paciente.
Outro problema que tem representado um dos principais desafios refere-se ao desabastecimento de medicamentos essenciais ao cuidado em terapia intensiva, principalmente envolvendo sedoanalgesia e bloqueio neuromuscular, que acometeu todo país, dada a imensa demanda. Esse cenário de adversidades tem exigido do serviço de Farmácia Hospitalar esforços adicionais quanto à necessidade de disponibilização de alternativas terapêuticas na tentativa de suprir tal necessidade ao mesmo tempo que fortaleceu o trabalho em equipe nas interfaces entre os serviços assistenciais e da gestão de suprimentos.
AF: como gerenciar essa área do hospital durante um tempo como esse?
DR. LF: tem sido bastante desafiador! Não é possível pensar na farmácia especificamente sem pensar no hospital como um todo. A farmácia é parte integrante desse ciclo de assistência hospitalar e depende diretamente de uma organização do sincronismo dos demais serviços e profissionais inseridos nessa rede.
Sem dúvida nenhuma, as relações e processos indispensáveis à gestão desta área precisaram estar ainda mais integrados aos demais serviços de apoio, bem como assistenciais. O “pensar” em assistência farmacêutica necessita de padrões de processos, fluxos, protocolos para uso efetivo e seguro de medicamentos e produtos para a saúde, sempre considerando a interface com as demais áreas hospitalares e o acesso racional e seguro a estas tecnologias em saúde.
É preciso uma visão regulatória para controle sanitário, administrativa e técnico-científica. O gerenciamento desse serviço compete ao farmacêutico que deve ter conhecimento de gestão e conhecimento assistencial para que possa garantir os melhores desfechos clínicos possíveis, aos pacientes assistidos pela respectiva unidade de saúde, razão maior de seu trabalho no ambiente hospitalar.
AF: quais são os maiores aprendizados que os profissionais devem tirar dessa nova realidade?
DR. LF: