A reutilização de agulhas e seringas para a insulina coloca em risco a saúde do paciente e não é uma prática indicada. Essa foi a conclusão da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) em posicionamento oficial inédito, divulgado recentemente, com o objetivo de orientar sobre o tratamento injetável do diabetes aos profissionais de saúde.
Entre as diversas recomendações para aplicação e autoaplicação, a questão da não reutilização de agulhas e seringas é um dos pontos de destaque, porque o reuso é um hábito comum entre os indivíduos no Brasil.
Dr. Augusto Pimazoni Netto, coordenador do grupo de educação e controle do diabetes do Hospital do Rim da UNIFESP, explica que o estudo foi realizado para sensibilizar o público, empresas e entidades com a intenção de resolver esse problema sério da reutilização de agulhas. “As pessoas não são devidamente educadas sobre como usar as técnicas corretas de aplicação e acabam causando danos à própria saúde. E no Brasil essa questão é bem crítica”.
Carolina Mauro, consultora Educacional de Diabetes Care da BD, afirma que, embora a instrução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e dos fabricantes seja o de uso único, o mesmo insumo chega a ser usado pelos indivíduos em três a cinco aplicações. “Os motivos da reutilização são conveniência, economia, falta de outra seringa ou agulha e, ainda, da orientação apropriada por parte dos profissionais de saúde. Atualmente é um hábito encontrado mundialmente e não exclusivamente no Brasil, mas ao questionarmos os brasileiros, um dos principais motivos é a falta de outra seringa ou agulha para se utilizar”.
Reutilização de agulhas na aplicação da insulina: perigos para o paciente
De acordo com Carolina, a reutilização de agulhas pode estar associada a deformação no tecido subcutâneo (lipo-hipertrofia), além de infecções, casos inexplicados de hipoglicemia, variabilidade glicêmica, leve aumento da HbA1C, dor e desconforto nas aplicações. “Reutilizadas, as agulhas perdem afiação e sofrem alterações, com risco de quebra e bloqueio do fluxo, por causa da cristalização da insulina. Na seringa, a escala de graduação desaparece, o que amplia erros no registro da dose”.
Agulha nova
Agulha reutilizada uma vez, ampliada em 2.000 vezes
O papel do farmacêutico na mudança do quadro de reutilização de agulhas
Para Dr. Augusto, o farmacêutico é o tipo de profissional que pode ter um impacto muito grande sobre o cliente diabético para ajudá-lo no conhecimento com relação à doença, aos medicamentos e sobre como injetar a insulina corretamente. “É fundamental também ressaltar ao indivíduo com a patologia que ela não tem cura, mas tem controle e, para antigi-lo, é preciso conhecer as condições corretas de aplicação do hormônio e dos remédios orais”.
Carolina complementa salientando a importância do especialista da farmácia auxiliar a população com diabetes em outros aspectos como:
- Conservação e transporte da insulina;
- Via correta de aplicação (tecido subcutâneo);
- Escolha do dispositivo (seringa ou caneta);
- Recomendação do comprimento de agulha; prega subcutânea e ângulo de inserção da agulha, conforme o comprimento de agulha;
- Regiões recomendadas para aplicação;
- Técnica correta e orientações de rodízio;
- Preparo e aplicação;
- Descarte domiciliar dos materiais (agulha, seringa, lancetas entre outros);
- Riscos da reutilização de agulhas e seringas.
“A informação irá proporcionar habilidades de autocuidado e a capacidade de integrar o tratamento ao cotidiano do paciente”, adiciona consultora Educacional de Diabetes Care da BD.
Como aplicar corretamente a insulina
Além da reutilização de agulhas, aplicar a insulina incorretamente também afeta o controle do diabetes. Por isso, é importante que o farmacêutico saiba a maneira como deve ser feita para orientar os consumidores.
Carolina mostra que injetar o hormônio é um procedimento simples e rápido o qual garante saúde e qualidade de vida a pessoa com a condição. O passo a passo inclui:
- Lavar as mãos e separar a seringa, o álcool e a insulina;
- Fazer a homogeneização do hormônio em suspensão (NPH), se necessário;
- Aspirar a dose prescrita;
- Fazer a prega subcutânea (necessária em casos de agulhas com comprimento acima de 5 mm);
- Injetar a insulina, aguardar no mínimo 10 segundos e retirar a agulha da pele, sem massagear o local.
“Estudos indicam que a espessura da pele não ultrapassa 3mm, independente do perfil físico e idade do indivíduo. Portanto, uma agulha com comprimento de 4mm atinge a camada correta para a absorção do hormônio pelo organismo (tecido subcutâneo). Vale lembrar que a prega subcutânea é recomendada para as agulhas com comprimento acima de 5 mm e/ou em pacientes com escassez de tecido subcutâneo como os idosos ou crianças abaixo de seis anos. A prega garante que a insulina não será aplicada no músculo, tornando o tratamento mais seguro e efetivo”.
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